quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Aqui do alto a emoção do jogo torna-se mais bela!


Por estar num plano mais alto, o Morro do Carapina ostenta uma vista privilegiada de grande parte da cidade de Governador Valadares. Esta condição de visão permite aos apaixonados pelo futebol, assistirem a jogos que se passam no Estádio da cidade.
Desde novos nos acostumamos a procurar o melhor espaço para acompanharmos as partidas da Pantera contra os seus adversários, especialmente contra América, Atlético e Cruzeiro.
É uma tradição que perpassou o tempo e transferiu de pai para filho a alegria de acompanhar dos barrancos e terraços grandes jogos que aconteceram no Mamudão.
Meu pai, desde a infância, gostava muito de futebol e tinha o grande sonho de ser um narrador. Por ser portador de hemofilia, ele não podia praticar o esporte, entretanto, subia nos barrancos para vestir-se no papel de narrador esportivo. Isto se passou em São José do Acácio.
Após vir para Valadares se encantou ainda mais pelo futebol e pela paixão de ver e narrar jogo; infelizmente, não se tornou um narrador profissional, mas brincava de narrar para si mesmo e para quem estava à sua volta.
A condição financeira limitada não foi obstáculo para pertencer ao espetáculo do futebol, pois bastava procurar o melhor lugar no alto do morro e pronto; era só aguardar o começo das partidas.
Claro que meu pai contava com um aliado fiel: o rádio! O que não se podia ver de tão perto, era vislumbrado pela arte da imaginação fomentada pela voz e interpretação de grandes radialistas que geravam a real sensação de que ele estava dentro do Mamudão.
Cresci aprendendo a acompanhar os jogos de lá; do alto do Morro do Carapina. Quem não tinha seu radinho, posicionava-se perto de um vizinho de “arquibancada” para sentir mais de perto a emoção do jogo.
Um fato interessante é que tenho um tio emprestado, chamado Camilo José de Andrade, este sim, era fominha mesmo; chegava no barranco logo após o almoço de domingo. Podia marcar meio dia que ele já estava lá, garantindo seu lugar, principalmente quando o Democrata mandava jogos contra os grandes da Capital Mineira.
E na hora do gol? Era uma festa completa com risos, gozações, vibração e muito cuidado para não despencar despenhadeiro abaixo.
A rivalidade entre atleticanos e cruzeirenses era também uma tônica importante, pois ambos reforçavam a torcida da Pantera quando o assunto era secar o rival.
Muitos moradores antigos do bairro tinham o bom hábito de comparecerem na Rua Iara perto da “Mercearia do Nicão” para conferirem as partidas.
Quem era mais novo se via na obrigação de respeitar o direito de antiguidade. Alguns mais maduros na idade tinham cadeira cativa, quer dizer, tinham um pedaço de barranco cativo; lugar dominical quase sagrado.
Escrevendo este texto, a mente viaja no tempo... Quanta saudade!
Foi um tempo maravilhoso em que a gente convivia em harmonia com os amigos. Mesmo que houvesse um ou outro que torcesse contra a camisa do nosso time, não tinha problema; o que nos importava era a beleza da visão que tínhamos. E o melhor de tudo, nem precisávamos de dinheiro para tal deleite.
Nos tempos atuais, algumas coisas impedem que os apaixonados torcedores frequentem os barrancos do Carapina. Infelizmente, não tem como não protestar contra a violência nos becos e vielas; não tem como não mencionar a edificação de prédios ao redor do Estádio José Mammud Abbas; e, infelizmente, não se pode calar ante a falta de urbanidade das pessoas do século atual que são intolerantes, e até agressivas, com aquele que torce contra a camisa de seu time de coração.
Coisas estas que obstaculizaram a visão privilegiada e furtaram a alegria e a beleza do jogo de futebol acompanhado do Alto do Carapina.

Nicomedes Felício
Apaixonado pelo futebol
Morador do Morro do Carapina


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